Editorial O poema em tradução: uma forma singular de vida. Apresentação do volume 27, n.1, de Alea. Estudos Neolatinos González, Elena Palmero |
Artigo Traduzir Leminski Kilanowski, Piotr Resumo em Português: Resumo O artigo inicia apresentando a história da tradução e da publicação do único (até agora) livro de poesias de Paulo Leminski para o idioma polonês, Powróciło moje polskie serce. Na sequência, discutem-se em detalhe três dos poemas traduzidos, apresentam-se desafios tradutórios e analisam-se poemas originais e traduzidos. Posteriormente são discutidas a questão da recepção do livro e perspectivas de futuras publicações e traduções da poesia leminskiana na Polônia. Na parte final do artigo, o autor faz uma reflexão poética a respeito do ato de traduzir Leminski, ilustrada com traduções até agora inéditas dos versos do poeta curitibano.Resumo em Espanhol: Resumen El artículo comienza presentando la historia de la traducción y publicación del único (hasta ahora) libro de poesía de Paulo Leminski al idioma polaco Powróciło moje polskie serce. A continuación, se analizan en detalle tres de los poemas traducidos, se presentan los desafíos de traducción y se analizan los poemas originales y traducidos. A continuación se analiza la cuestión de la acogida del libro y las perspectivas de futuras publicaciones y traducciones de la poesía de Leminski en Polonia. En la parte final del artículo, el autor hace una reflexión poética sobre el acto de traducir a Leminski, que se ilustra con traducciones hasta ahora inéditas de versos del poeta curitibano.Resumo em Inglês: Abstract The article begins by presenting the history of the translation and publication of Paulo Leminski’s hitherto only book of poetry into the Polish language, Powróciło moje polskie serce. In the next part, three of the translated poems are discussed in detail, translation challenges are presented and original and translated poems are analyzed. Subsequently, the issue of the book’s reception and prospects for future publications and translations of Leminski’s poetry in Poland are discussed. In the final part of the article, the author makes a poetic reflection on the act of translating Leminski, which is illustrated with hitherto unpublished translations of the Curitiba poet’s verses. |
Artigo Paul Celan e Maya Zack, um poema e um filme Perez, Juliana Pasquarelli Resumo em Português: Resumo Este artigo analisa o filme-poema Counterlight/Gegenlicht (2016), da artista israelense Maya Zack (1976-). O filme é a terceira parte de uma trilogia da artista sobre a questão da memória e é baseado no poema “Engführung”, de Paul Celan (1920-1970). Como outras produções desse tipo, consiste numa junção de poema, imagem e som ou “uma combinação de poema e filme de curta-metragem” (Orphal, 2014, p. 5). Este artigo deseja discutir como o poema “Engführung”, de Celan, é abordado e se transforma no filme de Zack e como o próprio filme Counterlight participa da construção da memória da Shoa.Resumo em Espanhol: Resumen Este artículo analiza la película-poema Counterlight/Gegenlicht (2016) de la artista israelí Maya Zack (1976-). La película es la tercera parte de una trilogía de la artista sobre la cuestión de la memoria y se basa en el poema “Engführung” de Paul Celan (1920-1970) y, al igual que otras producciones de este tipo, consiste en una combinación de poema, imagen y sonido, o “una combinación de poema y cortometraje” (Orphal, 2014, p. 5). Este artículo tiene como objetivo discutir cómo el poema de Celan “Engführung” es abordado y transformado en la película de Zack, y cómo la propia película Contraluz participa en la construcción de la memoria de la Shoa.Resumo em Inglês: Abstract This article analyses the poetry-film Counterlight/Gegenlicht (2016) by Israeli artist Maya Zack (1976-). The film is the third part of a trilogy by the artist on the subject of memory, based on the poem “Engführung” by Paul Celan (1920-1970) and, like other productions of this type, consists of a combination of poetry, image and sound, or “a combination of poem and short film” (Orphal, 2014, p. 5). This article aims to discuss how Celan’s poem “Engführung” is approached and transformed in Zack's film, and how the film Counterlight itself participates in the construction of the memory of the Shoa. |
Artigo Charles Baudelaire: uma imago na ensaística de Didi-Huberman Vilarino, Júnior Resumo em Português: Resumo Evidencia-se um percurso de alegorias baudelairianas na ensaística didi-hubermaniana, buscando destacar seu papel de matriz imagética. Demonstra-se, em ensaios de Didi-Huberman, a conjunção de escrita analítica, textualidade ecfrástica e imagética metaensaística. Postula-se o marco de Aperçues no conjunto da obra, em que a passante baudelairiana fomenta a intensificação da sugestibilidade metafórica, o experimentalismo do ensaísmo literário, a motivação do signo linguístico, enfim, a constituição da negatividade de uma “construção epistêmica padrão”. Recorre-se teoricamente a Jean Starobinsky e Brian Dillon.Resumo em Francês: Résumé Nous retraçons une trajectoire d’images baudelairiennes en soulignant sa pertinence matricielle dans la pensée didi-hubermanienne. Nous chercherons à démontrer, dans certains essais de Didi-Huberman, la combinaison d’écriture analytique, de textualité ekphrastique et d’imagerie méta-essayiste. Nous postulons le bouleversement de l'essai Aperçues dans la totalité de l’œuvre, où la passante baudelairienne favorise l’intensification de la suggestibilité métaphorique, l’exacerbation de l’essayisme littéraire, la motivation du signe linguistique, la constitution, enfin, de la négativité d'une “construction épistémique standard”. Nous nous basons sur les présupposés théoriques de Jean Starobinsky et Brian Dillon.Resumo em Inglês: Abstract A trajectory of the Baudelairean image is constructed, highlighting its matrix relevance in Hubermanian thought. In Didi-Huberman’s works, the combination of analytical writing, ekphrastic textuality and metaessayistic imagery is demonstrated. The landmark of Aperçues is postulated in the entire work, in which the passante provides the intensification of metaphorical suggestibility, the instigation of literary essayism, the motivation of the linguistic sign, the constitution, at last, of the negativity of an “standard epistemic construction”. Theoretically, Jean Starobinsky and Brian Dillon are mentioned. |
Artigo Sócrates na Gamboa ou a réplica de Íon Jalles, Bruno Resumo em Português: Resumo O diálogo platônico Íon comporta uma célebre crítica à poesia na forma de uma diatribe contra a arte rapsódica. No texto, Sócrates argumenta contra o rapsodo Íon, no sentido de que o poeta não possui nem uma técnica, nem um saber próprios, mas que compõe segundo inspiração divina. Estupefato diante do argumento socrático, Íon se cala e aceita tal condição como verdadeira. O presente trabalho, entretanto, ousa perguntar: e se Íon não se calasse, e se ele tivesse respondido? Ou ainda: e se a resposta tenha sido dada alguns milênios depois? Pois, se sairmos do mundo ático e fizermos uma viagem temporal para uma cidade também conhecida por seus aedos e rapsodos e também marcada pela tragédia da escravidão, encontraremos duas canções poetizadas por Paulo César Pinheiro e famosas na rapsódia de João Nogueira. A exegese delas nos permitirá confrontar Sócrates, pois há nelas precisamente aquilo que Íon deveria ter dito.Resumo em Francês: Résumé Le dialogue platonicien Ion contient une célèbre critique de la poésie sous la forme d’une diatribe contre l’art rhapsodique. Dans le texte, Socrate argumente contre le rhapsode Ion qui le poète n’a ni sa propre technique ni son propre savoir, mais qu’il compose selon l’inspiration divine. Abasourdi par l’argument socratique, Ion reste silencieux et accepte cette condition comme vraie. Le présent essai ose cependant se demander : et si Ion n’était pas resté silencieux, et s’il avait répondu? Et si la réponse était donnée quelques millénaires plus tard? Car si nous quittons le monde attique et faisons un voyage temporel vers une ville également connue pour ses aedos et rhapsodes, et également marquée par la tragédie de l’esclavage, nous retrouverons deux chansons écrites par Paulo César Pinheiro, et célèbres dans la rhapsodie de João Nogueira. Leur exégèse permettra de confronter Socrate, car elles contiennent précisément ce qu’Ion aurait dû dire.Resumo em Inglês: Abstract The Platonic dialogue Ion contains a famous criticism of poetry in the form of a diatribe against rhapsodic art. In the text, Socrates argues against the Ion, the rhapsode, stating that the poet has neither technique nor knowledge, but that he composes according to divine inspiration. Stunned by the Socratic argument, Ion remains silent and accepts this condition as true. The present work, however, dares to ask, what if Ion had not remained silent, what if he had responded? Or, still, what if the answer was given a few millennia later? Because if we leave the Attic world and take a temporal journey to a city also known for its aedos and rhapsodes, and also marked by the tragedy of slavery, we will find two songs written by Paulo César Pinheiro, also famously known in the rhapsody of João Nogueira. Their exegesis will allow us to confront Socrates, as they contain precisely what Ion should have said. |
Artigo Ana Mafalda Leite: voz de m’siro a encantar palavras Brandão Leal, Luciana Resumo em Português: Resumo Analisam-se trânsitos geográficos, históricos, estéticos e discursivos propostos por Ana Mafalda Leite, poeta e intelectual luso-moçambicana, estudiosa das literaturas africanas de língua portuguesa. Privilegia-se sua persona poética, especialmente, os percursos encenados na obra Janela para o Índico: poesia incompleta (1984-2019), que registra 35 anos da sua escrita literária. Evidenciam-se trânsitos espaciais e temporais e aproximações entre poesia, música e artes plásticas. Consideram-se também as múltiplas referências e diálogos propostos pela voz poética de Ana Mafalda Leitem, sobretudo com poetas moçambicanos do século XX.Resumo em Espanhol: Resumen Se analizan los tránsitos geográficos, históricos, estéticos y discursivos propuestos por Ana Mafalda Leite, poeta e intelectual luso-mozambicana, estudiosa de las literaturas africanas en lengua portuguesa. Se privilegia su personalidad poética, especialmente los caminos andados en la obra Ventana al Océano Índico: poesía incompleta (1984-2019), que registra 35 años de su escritura literaria. Son evidentes los tránsitos y aproximaciones espaciales y temporales entre la poesía, la música y las artes visuales. También se consideran las múltiples referencias y diálogos propuestos por la voz poética de Ana Mafalda Leite; especialmente con los poetas mozambiqueños del siglo XX.Resumo em Inglês: Abstract Geographic, historical, aesthetic and discursive transits proposed by Ana Mafalda Leite, Portuguese-Mozambican poet and intellectual, scholar of Portuguese-speaking African literature, are analyzed. Her poetic persona is privileged; especially, the journeys staged in the work Janela para o Índico: poesia incompleta (1984-2019), which records 35 years of her literary writing. Spatial and temporal transits and similarities between poetry, music and visual arts are evident. The multiple references and dialogues proposed by the poetic voice of Ana Mafalda Leite are also considered; mainly, with Mozambican poets from the 20th century. |
Dossiê Palavras dos editores convidados. Ler o poema em tradução Cardozo, Mauricio Mendonça Simpson, Pablo |
Dossiê A escrita como desenho de palavras: imagem e tradução nos Mitopoemas Yãnomam Leal, Izabela Resumo em Português: Resumo O livro Mitopoemas Yãnomam, publicado em 1978, tomou como ponto de partida o trabalho de Claudia Andujar e Carlo Zacquini, apresentando desenhos realizados por três yanomami que, em seguida, contaram histórias relacionadas à cosmologia de seu povo. Essas narrativas foram primeiramente traduzidas de forma literal para o português, depois passaram por uma adaptação literária e foram traduzidas também para o italiano e o inglês. Tal proposta editorial mobiliza conexões imprevistas e desestabilizações de sentido tanto na cultura de partida quanto na de chegada. Este artigo tem o objetivo de investigar a atualidade desse projeto que aposta na “fusão de palavra oral e desenho”, lançando-nos a outro regime de pensamento. A tradução, nesse sentido, funciona como um dispositivo crítico que nos permite adentrar a cultura yanomami, percebida em sua complexidade, ao mesmo tempo que desestabiliza a própria noção de poesia, tal como é entendida, via de regra, nos termos da literatura ocidental.Resumo em Francês: Résumé Le livre Mitopoemas Yãnomam, publié en 1978, a commencé avec le travail de Claudia Andujar et Carlo Zacquini, présentant des dessins réalisés par trois yanomami qui racontaient ensuite des histoires liées à la cosmologie de leur peuple. Ces récits ont d’abord été traduits littéralement en portugais, puis ont fait l’objet d’une adaptation littéraire et ont également été traduits en italien et en anglais. Cette proposition éditoriale mobilise des connexions imprévues et des déstabilisations de sens, tant dans la culture source que dans la culture cible. Cet article vise à examiner la pertinence actuelle de ce projet qui se concentre sur la “fusion de mots oraux et de dessins”, nous lançant dans un autre régime de pensée. La traduction, dans ce sens, fonctionne comme un dispositif critique qui nous permet d'accéder à la culture yanomami, perçue dans sa complexité, tout en déstabilisant la notion même de poésie, telle qu’elle est généralement comprise dans la littérature occidentale.Resumo em Inglês: Abstract The book Mitopoemas Yãnomam, published in 1978, began with the work of Claudia Andujar and Carlo Zacquini presenting drawings made by three Yanomami who then told stories related to the cosmology of their people. These narratives were first translated literally into Portuguese, then underwent a literary adaptation and were also translated into Italian and English. This editorial proposal mobilizes unexpected connections and destabilizations of meaning, both in the culture of origin and in the culture of destination. This article aims to investigate the current relevance of this project that focuses on the “fusion of oral word and drawing”, launching us into another regime of thought. In this sense, translation functions as a critical device that allows us to delve into Yanomami culture, perceived in its complexity, while at the same time destabilizing the very notion of poetry, as it is generally understood in terms of Western literature. |
Dossiê “Iniji” entre Michaux, Le Clézio e Helder Martins, Helena Resumo em Português: Resumo Reflito aqui sobre a recepção do poema “Iniji”, de Henri Michaux (1962). Concentro-me nas apropriações de dois de seus arrebatados leitores: J. M. G. Le Clézio, que, em 1978, responde ao “Iniji” de Michaux com um escrito homônimo tão formidável quanto difícil de classificar; e Herberto Helder, que, em 1998, publica juntos os “Inijis” de Le Clézio e de Michaux, em traduções que, sabemos, teria preferido chamar de escritos “mudados para o português”. É atentando à circulação de “Iniji” por entre as páginas desses três autores que abordo o jogo entre criação, tradução e crítica, tema deste volume. Escrevo tentando desdobrar a percepção de que uma forma singular desse jogo se deixa flagrar em ato nesse circuito - o que promete tanto nutrir a discussão teórica aqui mobilizada quanto transformar sensivelmente as possibilidades do jogo. Minha discussão apela à noção derridiana de contra-assinatura.Resumo em Francês: Résumé Je réfléchis ici à la réception du poème “Iniji” d’Henri Michaux (1962). Je me concentre sur les appropriations faites par deux de ses lecteurs enchantés: J.M.G. Le Clézio, qui, en 1978, a réagi au “Iniji” de Michaux par un écrit du même titre, aussi remarquable que difficile à classer ; et Herberto Helder, qui, en 1998, a publié conjointement les “Inijis” de Le Clézio et de Michaux, dans des traductions que, nous le savons, il aurait préféré qualifier des écrits “changés en portugais”. C’est en prêtant attention à la circulation de “Iniji” entre les pages de ces trois auteurs que j’aborde l’interaction entre création, traduction et critique, qui est le thème de ce volume. J’écris pour tenter de déployer la perception qu’une forme singulière de ce jeu est prise en acte dans ce circuit - ce qui promet non seulement de nourrir la discussion théorique, mais aussi transformer sensiblement les possibilités de ce jeu. Ma discussion fait appel à la notion derridienne de contre-signature.Resumo em Inglês: Abstract This article discusses the reception of Henri Michaux’s poem “Iniji” (1962), in particular the appropriations made by two of its enraptured readers: J. M. G. Le Clézio, who in 1978 responded to Michau’s “Iniji” with a text with the same title, as formidable as it is difficult to classify; and Herberto Helder, who in 1998 published Le Clézio’s and Michaux’s “Inijis” together, in translations that, as we know, he would have preferred to call writings “changed into Portuguese.” Examining the circulation of “Iniji” between the pages of these three authors, I analyze the interplay between creation, translation and criticism, the theme of this volume. This is an attempt to develop the perception that a singular form of this interplay is caught as act in this circuit, something that can both contribute to the present theoretical discussion and sensibly transform the possibilities of play. My discussion relies on Derrida’s concept of countersignature. |
Dossiê Spesso il male di vivere ho incontrato de Eugenio Montale em tradução Peterle, Patricia Resumo em Português: Resumo A proposta deste ensaio é refletir sobre a natureza do texto traduzido e sua relação com o texto de partida a partir do diferimento e da interpenetração da língua na língua. Partindo da ideia de que o gesto tradutório perpassa pelo afetivo e pelo amoroso e que requer e exige o espaço do outro, pretende-se analisar duas traduções do poema “Spesso il male di vivere ho incontrato”, publicado em 1925 no volume Ossi di seppia.Resumo em Espanhol: Resumen El propósito de este ensayo es reflexionar sobre la naturaleza del texto traducido, su relación con el texto de partida, a partir del diferimiento y la interpenetración del lenguaje en el lenguaje. Partiendo de la idea de que el gesto de la traducción es afectivo y amoroso, que requiere y exige el espacio del otro, el objetivo es analizar dos traducciones del poema Spesso il male di vivere ho incontrato, publicado en 1925 en el volumen Ossi di seppia.Resumo em Inglês: Abstract The purpose of this essay is to reflect on the nature of the translated text and its relationship with the source text based on the deferral and interpenetration of language in language. Based on the idea that the gesture of translation is affective and loving and that it requires and demands the space of the other, the aim is to analyze two translations of the poem “Spesso il male di vivere ho incontrato”, published in 1925 in the volume Ossi di seppia. |
Dossiê No princípio toda língua é estrangeira: poesia e tradução em Ana Martins Marques Ricieri, Francine Fernandes Weiss Oliveira, Waltencir Alves de Resumo em Português: Resumo O artigo aborda recorrências em livros de Ana Martins Marques, como a constante reflexão sobre o processo de escrita, por meio da qual o poema se apresenta como esboço de uma filosofia da linguagem, investigando limites entre nomear e traduzir/transpor de um lugar a outro, ou, ainda, as relações entre escrita poética e certa concepção de tradução. Esses traços parecem assumir o caráter de eixo estrutural em De uma a outra ilha (2023), desde o título: não se trata de tematizar uma ilha ou outra, mas de poetizar o trânsito entre elas. Outro traço marcante dessa poética é abordado pela consideração de uma nota da autora que sinaliza a apropriação literal de uma série de textos, por parte do livro/poema: a fricção entre gêneros, no trânsito entre tom íntimo e ensaísmo (e certa concepção de escrita não criativa). O texto se dedica a pensar as relações indicadas.Resumo em Espanhol: Resumen El artículo aborda recurrencias presentes en los libros de Ana Martins Marques, como la reflexión constante sobre el proceso de escritura, a través de la cual el poema parece presentarse como el esbozo de una filosofía del lenguaje, investigando los límites entre nombrar y traducir/transponer de un lugar a otro. O, incluso, las relaciones entre la escritura poética y una determinada concepción de la traducción. Estos rasgos parecen asumir el carácter de eje estructural en el libro De uma a outra ilha (2023), ya desde el título: no se trata de tematizar una isla u otra, sino de poetizar el tránsito entre ellas. Otro rasgo llamativo de esta poética se aborda considerando una nota del autor que señala la apropiación literal de una serie de textos, por parte del libro/poema: la fricción entre géneros, en el tránsito entre el tono intimista y el ensayismo (y una cierta concepción de escritura no creativa). El texto está dedicado a pensar en las relaciones señaladas.Resumo em Inglês: Abstract This article explores recurrences in Ana Martins Marques’s poetry, such as the constant reflection on the writing process, through which the poem seems to present itself as an outline of a philosophy of language, investigating the limits between naming and translating/transposing from one place to another, or the relationships between poetic writing and a certain conception of translation. These traits seem to assume the character of a structural axis in the book De uma a outra ilha (2023), right from the title: it is not about thematizing one island or another, but about poeticizing the transit between them. Another striking feature of this poetics is approached by considering a note from the author that signals the literal appropriation of a series of texts by the book/poem: the friction between genres, in the transit between an intimate tone and essayism (and a certain conception of non-creative writing). The paper aims to think about the relationships indicated. |
Dossiê Modos de sobrevida para poesia em tradução: como Leminski cantou Ferlinghetti Pereira, Livia Mendes Vieira, Brunno Vinicius Gonçalves Resumo em Português: Resumo Os autores que Paulo Leminski escolheu traduzir foram em geral revolucionários em suas épocas e serviram como referências para o futuro. O poeta curitibano não se limitou a uma acomodação passiva diante das traduções que produziu, ao contrário, a prática tradutória foi decisiva na construção de sua poiesis singular. O poeta fez com que seu trabalho tradutório alcançasse status de criação, ao produzir novos originais afinados, sobretudo com sua poética, como neste caso que abordaremos. Trataremos da expressividade que Leminski imprimiu nas traduções de poemas do poeta beat norte-americano Lawrence Ferlinghetti, identificando seus momentos de assimilação de uma poesia, que, segundo Leminski, está mais conectada ao poema falado, como uma espécie de recital. Essas questões serão discutidas diante da análise do poema “A Loja dos Caramelos Além do El”, em busca de aprofundar a reflexão sobre a singular forma de vida antagônica do novo poema traduzido.Resumo em Espanhol: Resumen Los autores que Paulo Leminski eligió para traducir fueron, en general, revolucionarios en su época y sirvieron de referencia para el futuro. El poeta de Curitiba no se limitó a una acomodación pasiva frente a las traducciones que hizo; al contrario, la práctica de la traducción fue decisiva en la construcción de su singular poiesis. El poeta trabajó para que su obra de traducción alcanzara el estatus de creación, al producir nuevos originales en sintonía, sobre todo, con su poética, como en este caso. Examinaremos las expresivas traducciones de Leminski de poemas del poeta beat estadounidense Lawrence Ferlinghetti, identificando sus momentos de recreación de una poesía que, según Leminski, está más conectada con el poema hablado, como una especie de recital. Estas cuestiones serán discutidas a la luz del análisis del poema “A Loja dos Caramelos Além do El”, en un intento de profundizar la reflexión sobre la singular forma de vida antagónica del nuevo poema traducido.Resumo em Inglês: Abstract The authors that Paulo Leminski chose to translate were generally revolutionary in their time and can be considered as references for the future of poetry. The Brazilian poet from Curitiba did not restrict himself to a passive adaptation in face of the translations he had done. On the contrary, the practice of translation was decisive in the construction of his own poiesis. The poet made his translation work reach the status of creation, by producing new originals that expressed, above all, his own poetics, as this paper will demonstrate. We will deal with the expressiveness that Leminski imprinted on the poetic translations from the American beat poet Lawrence Ferlinghetti, identifying the moments of re-creation of a poetry that, according to Leminski, is more connected to the spoken poem, as a kind of recital. These questions will be discussed by a close reading of “The Pennycandystore Beyond The El” in Leminski’s translation, aiming to highlight the singular antagonistic form of life of the new translated poem. |
Dossiê Eu sou um que traduz: tradução e endereçamento em Ana Cristina Cesar Siscar, Marcos Resumo em Português: Resumo O objetivo do artigo é compreender o tratamento dado por Ana Cristina Cesar ao problema da tradução, em especial quando é associado ao “endereçamento”, questão que pode ser identificada tanto em sua poesia quanto em sua produção crítica. Para tanto, a leitura das proposições de “Pensamentos sublimes sobre o ato de traduzir” procura dar destaque aos movimentos argumentativos e retóricos do ensaio, a fim de nomear as consequências do endereçamento para o tradutor, entendido como aquele que se coloca no lugar ativo da leitura.Resumo em Francês: Résumé Cet article cherche à comprendre comment Ana Cristina Cesar traite la question de la traduction, en particulier lorsqu’elle est associée à l‘«adresse lyrique», un problème que l’on retrouve aussi bien dans sa poésie que dans ses travaux critiques. En examinant les propositions de «Pensées sublimes sur l’acte de traduire», cet article met en lumière les mouvements argumentatifs et rhétoriques de l‘essai, afin de souligner les implications d’une pensée de l’adresse pour le traducteur, perçu comme un participant actif de la lecture.Resumo em Inglês: Abstract The aim of this article is to understand how Ana Cristina Cesar approaches the issue of translation, particularly in relation to “lyric address”, a concern evident in both her poetry and critical work. To achieve this, the reading of the propositions in "Sublime Thoughts on the Act of Translating" focuses on the argumentative and rhetorical movements of the essay, highlighting the implications of the text's addressed nature for the translator, who is seen as an active participant in the act of reading. |
Dossiê Circuladô de fulô: as pétalas da poesia russa de vanguarda no Brasil Vilara, Karina Vilela Resumo em Português: Resumo Este trabalho tem por objetivo apresentar a trajetória da tradução e recepção da poesia russa no Brasil, a partir do recorte de vanguarda, em três tempos: o primeiro Modernismo, a poesia concreta e o Tropicalismo. Dentro do escopo proposto, apresentou-se uma exposição crítica que parte da primeira menção aos poetas russos, como Maiakóvski e Blok, no ensaio de Mário de Andrade “A escrava que não era Isaura”, e chega a Caetano Veloso, com a presença de um verso de Maiakóvski na canção “Circuladô de Fulô”, composta a partir do fragmento de Haroldo de Campos em Galáxias. O traçado de tal percurso funda-se na tese acerca da organicidade que a poesia russa de vanguarda tomou no Brasil, adquirindo contornos próprios e, ao ser incorporada na música, cumprindo o desejo modernista antropofágico de Oswald de Andrade. Por fim, também se levantaram contradições inerentes à própria organicidade tradutória e sua relação com o sistema cultural brasileiro.Resumo em Francês: Résumé L’objectif de cet article est de présenter la trajectoire de la traduction et de la réception de la poésie russe au Brésil, du point de vue de l‘avant-garde, en trois périodes: le premier modernisme, la poésie concrète et le tropicalisme. Dans le cadre proposé, nous présentons une exposition critique qui commence par la première mention de poètes russes, tels que Maiakóvski et Blok, dans l’essai de Mário de Andrade «A escrava que não era Isaura» et arrive à Caetano Veloso avec la présence d’un vers de Maiakóvski dans la chanson «Circuladô de Fulô», composée à partir d’un fragment de Haroldo de Campos dans Galáxias. Ce parcours se fonde sur la thèse selon laquelle la poésie russe d‘avant-garde a connu un mouvement de traduction organique au Brésil, acquérant ses propres contours et, en s‘incorporant à la musique, réalisant le désir moderniste anthropophagique d‘Oswald de Andrade. Enfin, les contradictions inhérentes à l’organicité même de la traduction et à sa relation avec le système culturel brésilien ont également été soulevées.Resumo em Inglês: Abstract The aim of this paper is to present the trajectory of the translation and reception of Russian poetry in Brazil, from the point of view of the avant-garde, in three periods: in the context of early Modernism, Concrete Poetry and Tropicalism. Within the proposed scope, we present a critical exposition that starts with the first mention of Russian poets, such as Maiakóvski and Blok, in Mário de Andrade’s essay “A escrava que não era Isaura” and arrives at Caetano Veloso with the presence of a verse by Maiakóvski in the song “Circuladô de Fulô”, composed from Haroldo de Campos’ fragment in Galáxias. This path is based on the thesis that Russian avant-garde poetry took on an organic translation movement in Brazil, acquiring its own contours and, by being incorporated into music, fulfilling Oswald de Andrade’s anthropophagic modernist desire. Finally, contradictions inherent to the very organicity of translation and its relationship with the Brazilian cultural system are also raised. |
Dossiê Destruir, destruir, destruir Agostinho, Larissa Drigo Resumo em Português: Resumo Neste artigo buscamos pensar a prática da tradução e sua relação com a escrita poética a partir de Hölderlin e das leituras de Agamben, Benjamin e Anne Carson. A pergunta que nos colocamos parte da premissa de que um poema traduzido pode ser considerado uma forma singular de vida (Cardozo). Nesse caso, como descrever o processo que produz tal singularidade? Trata-se de desenvolver a relação entre a poesia/tradução e o que Agamben chama de vida habitante em busca de um conceito que nos permita pensar uma maneira de traduzir o intraduzível que habita entre as línguas, privilegiando a desestruturação sintática e a literalidade. Esse caminho que nos levará de Hölderlin a Baudelaire busca compreender o papel da destruição na criação poética e sua relação com os clichês. A relevância deste artigo está no conceito de forma poética, que aparece como um jogo de forças tecido entre a crítica, a tradução e a criação.Resumo em Francês: Résumé Dans cet article, nous proposons de réfléchir à la pratique de la traduction et à sa relation avec l‘écriture poétique à partir de Hölderlin et des lectures d’Agamben, de Benjamin et d’Anne Carson. Notre question part du principe qu’un poème traduit peut être considéré comme une forme de vie singulière, comme soutient Cardozo, dans ce cas, comment décrire le processus qui produit cette singularité? Il s‘agit de développer la relation entre poésie/traduction et ce qu’Agamben appelle la vie habitante, à la recherche d’un concept qui permet de penser une manière de traduire l’intraduisible qui habite entre les langues, en privilégiant la déconstruction syntaxique et la littéralité. Ce parcours, qui nous mènera de Hölderlin à Baudelaire, cherche à comprendre le rôle de la destruction dans la création poétique et son rapport avec les clichés. La pertinence de cet article réside dans le concept de forme poétique, qui apparaît comme un jeu de forces tissé entre la critique, la traduction et la création.Resumo em Inglês: Abstract In this article we seek to think about the practice of translation and its relation to poetic writing based on Hölderlin and the readings of Agamben, Benjamin and Anne Carson. Our question is based on the premise that a translated poem can be considered a singular form of life (Cardozo). In this case, how can we describe the process that produces such singularity? It involves developing the relationship between poetry/translation and what Agamben calls inhabiting life in search of a concept that allows us to think of a way of translating the untranslatable that dwells between languages, favoring syntactic disruption and literality. This path, which will take us from Hölderlin to Baudelaire, seeks to understand the role of destruction in poetic creation and its relationship with clichés. The relevance of this article lies in the concept of poetic form, which appears as a play of forces woven between criticism, translation and creation. |
Dossiê O rei: a tradução do poema-coisa de Rilke por Augusto de Campos Torres, Ana Maria Ferreira Resumo em Português: Resumo Neste artigo, em primeiro lugar, realiza-se uma leitura da tradução “O rei”, que Augusto de Campos fez de “Der König”, poema de Rainer Maria Rilke. Nessa leitura, observa-se como o tradutor ressalta o aspecto de concisão do poema do poeta praguense; além disso, a figura do rei é semanticamente ainda mais esvaziada de autoridade no poema em português. Em seguida, é traçada uma comparação entre “O rei” e o poema autoral de Campos “O rei menos o reino”. Nesse cotejo, percebe-se a semelhança entre as duas figuras da realeza, permitindo refletir sobre como a atividade de tradutor e a de autor de Augusto estão em constante diálogo. Como referências teóricas, no tocante ao aspecto de concisão do poema, foram consultados os trabalhos de Ezra Pound (2006) e Jacques Derrida (2001); no referente à leitura de tradução, serviram de referência os textos de Paul Ricœur (2011) e Maurício Cardozo (2019).Resumo em Espanhol: Resumen En primer lugar, este artículo analiza O rei, la traducción de Augusto de Campos de Der König, poema de Rainer Maria Rilke. En esta lectura, observamos cómo el traductor enfatiza el aspecto conciso del poema del poeta praguense, y cómo semánticamente la figura del rey está aún más vaciada de autoridad en el poema portugués. A continuación, se establece una comparación entre O Rei y el poema de Campos O rei menos o reino. Esta comparación revela las similitudes entre las dos figuras de la realeza, lo que nos permite reflexionar sobre cómo la actividad de Augusto como traductor y autor están en constante diálogo. Como referencias teóricas, se consultaron las obras de Ezra Pound (2006) y Jacques Derrida (2001) en relación con la concisión del poema, mientras que los textos de Paul Ricœur (2011) y Maurício Cardozo (2019) sirvieron como referencias para la lectura de la traducción.Resumo em Inglês: Abstract In this article, we first read Augusto de Campos' “O rei” [The King], his translation of “Der König”, a poem by Rainer Maria Rilke. In this reading, we observe how the translator emphasizes the conciseness of Rilke’s poem, and how semantically the trope of the king is even more emptied of authority in the Portuguese poem. Next, a comparison is made between “O rei” and Campos’ poem “O rei menos o reino”. This comparison reveals the similarities between the two figures of royalty, allowing us to reflect on how Augusto’s activity as a translator and author are in constant dialogue. As theoretical references, the works of Ezra Pound (2006) and Jacques Derrida (2001) were consulted with regard to the poem’s conciseness, while texts by Paul Ricœur (2011) and Maurício Cardozo (2019) served as references for translation readings. |
Dossiê Entre a França e o Brasil, relação e violência na poesia e na tradução Moraes, Marcelo Jacques de Resumo em Português: Resumo Diante da perspectiva sempre crescente, em nosso mundo entrecortado por fronteiras, de encontros e choques entre os corpos e as línguas que multiplicam e embaralham em toda parte seus rastros e resíduos, como constituir lugares comuns de vida e de pensamento que extrapolem o enquadramento de um território ou de uma língua como espaços cercados, como espaços de clausura, lugares de vida e de pensamento que se ponham, assim, como limiares de passagem ou de partilha, mais ou menos precários, por vezes violentos, mas onde, ainda que provisoriamente, “nós”, pronome pessoal, e “nós”, substantivo comum, possam se enodar, se desnodar, se reenodar? Como, em suma, constituir espaços de relação? Para discutir como essas questões se desenvolvem em minhas pesquisas entre a poesia e a tradução, entre a França e o Brasil, começarei com uma breve apresentação da relação entre poesia e língua materna do ponto de vista do poeta francês contemporâneo Christian Prigent; posteriormente, destacarei alguns aspectos das reflexões teóricas de Édouard Glissant, Jean-Christophe Bailly e Marielle Macé, pontuando-as com a leitura de alguns poemas de escritores brasileiros contemporâneos. Concluirei com um pequeno exemplo de tradução de poesia, reunindo os poetas Augusto dos Anjos e Christian Prigent.Resumo em Francês: Résumé Devant la perspective toujours croissante, dans notre monde parsemé de frontières, des rencontres et des chocs entre les corps et les langues qui multiplient et brouillent un peu partout leurs traces et leurs résidus, comment constituer des lieux communs de vie et de pensée qui dépassent l’encadrement d’un territoire ou d’une langue comme des espaces clos, comme des espaces d’enfermement, des lieux communs de vie et de pensée qui se posent donc plutôt comme des seuils de passage, ou de partage, plus ou moins précaires, parfois violents, mais où, même provisoirement, des « nous » et « des nœuds » puissent se nouer, se dénouer, se renouer ? Comment, en somme, constituer des espaces de relation ? Pour discuter de la façon dont ces questions se posent dans mes recherches entre la poésie et la traduction, entre la France et le Brésil, je vais commencer par une brève présentation des rapports entre la poésie et la langue maternelle du point de vue du poète français contemporain Christian Prigent ; par la suite, je mettrai en relief quelques aspects des réflexions théoriques d’Édouard Glissant, de Jean-Christophe Bailly et de Marielle Macé, en les ponctuant avec la lecture de quelques poèmes d’écrivains brésiliens contemporains. Je conclurai par un petit exemple de traduction de poésie réunissant les poètes Augusto dos Anjos et le Christian Prigent.Resumo em Inglês: Abstract Faced with the ever-increasing perspective, in our world dotted with borders, of encounters and clashes between bodies and languages which multiply and blur their traces and residues almost everywhere, how can we constitute common places of life and thought which go beyond the framing of a territory or a language as closed spaces, as spaces of confinement, common places of life and thought which, therefore, arise rather as thresholds of passage, or of sharing, more or less precarious, sometimes violent, but where, even temporarily, “we” and “knots” can be tied, untied, re-knotted? How, in short, can we constitute spaces of relationship? To discuss how these questions arise in my research between poetry and translation, between France and Brazil, I will begin with a brief presentation of the relationship between poetry and the mother tongue from the point of view of the French poet contemporary Christian Prigent; subsequently, I will highlight some aspects of the theoretical reflections of Édouard Glissant, Jean-Christophe Bailly and Marielle Macé, linking them with the reading of some poems by contemporary Brazilian writers. I will conclude with a small example of poetry translation, bringing together the poets Augusto dos Anjos and Christian Prigent. |
Dossiê Pelas portas que os gatos veem, o poema chegará: Cixous e Lispector em tradução Silva, Flavia Trocoli Xavier da Resumo em Português: Resumo No posfácio à tradução brasileira de A chegada da escrita, de Hélène Cixous (2024) lê-se que ritmo impresso ao texto traduzido porta a marca de Água viva (1973), de Clarice Lispector, como um suplemento àquilo que a voz da escrita diz que a ritma, isto é, a lalemã, evocação do alemão materno como canto, lalação, onomatopeia. A partir do encontro entre o texto francês “La venue à l’écriture”, de 1976, o texto de Clarice e o texto traduzido, este ensaio propõe-se a pensar movimentos da escrita de Cixous que impedem que o texto se fixe em um já-escrito, relançando a escrita no que ela fará, assim como a parataxe dá forma ao entrecortado do instante e desafia a causalidade - a causa é matéria de passado, diz a voz de Água viva que quer o instante-já que não cessa de morrer e renascer. Ao livro ainda a escrever, Cixous chama - poema. E dizer chamar não é dizer nomear. Chamar é lembrar a chama de um fogo morto ou iminente. Chamar é fazer apelo, é anunciar, é lançar em direção a, colocando a escrita em chegada, em ponto de partida, em tradução, em vida, como recebê-la? Em mais de uma língua, chamando o poema que soletrará o idioma Cixous, lugar de passagem do idioma Clarice.Resumo em Francês: Résumé La postface de la traduction brésilienne de La venue de l’écriture, 2024, nous fait savoir que le rythme insufflé au texte provient de la lecture de Água viva, 1973, de Clarice Lispector, dans une espèce de suppléance de ce que la voix de l'écriture reconnaît comme étant la source de son rythme, c’est à dire de lalemand, évocation de l’allemand maternel comme chant, balbutiement, onomatopée. À partir de la rencontre entre le texte français “La venue à l’écriture”, 1976, le texte de Clarice et le texte traduit, cet essai entend se pencher sur des mouvements importants de l'écriture de Cixous, qui empêchent que le texte puisse se fixer dans un déjà-écrit, relançant l'écriture dans ce qu’elle fera, telle la parataxe qui donne forme à l’entrecoupé de l’instant et défie la causalité - la cause relève du passé, dit la voix de Água viva à la recherche de l’instant-déjà qui ne cesse de mourir et de renaître. Le livre qu’il faut encore écrire, Cixous l’appelle - poème! Appeler n'est point nommer. Appeler, c’est rappeler la flamme d’un feu mort ou imminent. Appeler, c'est faire appel, annoncer, engager une direction, mettant l'écriture en venue, en point de départ, en traduction, en vie, comment la recevoir? En plus d'une langue, appelant le poème qui épellera l’idiome Cixous, lieu de passage de l’idiome Clarice.Resumo em Inglês: Abstract From the reading of the afterword to the Brazilian translation of A chegada da escrita (2024), it is possible to perceive that this work bears a resemblance to the rhythm of Água viva (1973), by Clarice Lispector, in a sort of a supplement to what the writing voice states to be the elements that dictate its pace, namely, the lalemã, the recalling of the German mother tongue as a chant, babbling, onomatopoeia. From the encounter between the French text “La venue à l’écriture”, from 1976, Clarice’s text and the translated text, this essay aims to reflect upon the important movements of Cixous’s writing that hinder the text to be fixed in a finished writing, relaunching the writing in what it will do, like parataxis shapes the intersected instant and defies casualty - the cause is a matter of the past, says the voice from Água viva that desires the present moment that does not cease to die and to be born again. To the book still to be written, Cixous calls - poem. And calling does not mean naming. Calling means to remember the spark of a dead or an imminent fire. Calling means to appeal, to announce, to go towards, placing writing as a point of arrival, as a starting point, in translation, in life, how to receive it? In more than one language, calling the poem that will spell Cixous’s language, the passing place of Clarice’s language. |
Dossiê Fingir arcaísmos no país das remembranças: traduzindo um soneto de Jacques Roubaud Ribeiro, Guilherme Cunha Resumo em Português: Resumo Dentro do livro La forme d’une ville change plus vite, hélas, que le coeur d’un mortel, de Jacques Roubaud (1999), reúnem-se sonetos sob o título “Square des Blancs-Manteaux” (algo como “Praça dos Mantos-Brancos”). Investigo neles o diálogo com a memória cultural da poesia devocional francesa, e penso a tarefa de traduzir um deles. Ao investigar o jogo entre temporalidades que se cria nele, explicito-o por meio das categorias de “memória” e “agora” de sua obra ensaística, que modulam a relação entre passado e presente. Noto detrás de suas formulações a hipótese da temporalização da apercepção histórica - formulada principalmente pelo historiador Reinhart Koselleck -, perceptível na poesia em suas vertentes românticas e pós-românticas. Conduzido por ela, destaco como seu procedimento central de escrita a inversão. Isso resulta na investigação da maneira como traduzi um soneto, que esclarece a tarefa mais ampla, e mais geral, de como traduzir esse tipo de sobreposição de tempos.Resumo em Francês: Résumé Dans le livre La forme d'une ville change plus vite, hélas, que le coeur d'un mortel (1999), de Jacques Roubaud, certains sonnets sont rassemblés sous le titre « Square des Blancs-Manteaux ». J'étudie leur dialogue avec la mémoire culturelle de la poésie dévotionnelle française et j'envisage la tâche de traduire l'un d'entre eux. En travaillant sur l'interaction entre les temporalités qu'il crée, j’explicite cette relation à travers les catégories de « mémoire » et de « maintenant » présentes dans son oeuvre d’essayiste, qui donnent forme à la relation entre passé et présent élaborée par ces poèmes. Derrière ses formulations je remarque l'hypothèse de la temporalisation de la perception historique - idée formulée principalement par l'historien Reinhart Koselleck -, trait perceptible dans les courants romantiques et post-romantiques de la poésie. Guidé par cette hypothèse, je mets l'accent sur l'inversion en tant que stratégie centrale de son écriture. Il en résulte une enquête sur la manière dont j'ai traduit un sonnet, qui éclaire la tâche plus large et plus générale de savoir comment traduire un tel chevauchement de temps.Resumo em Inglês: Abstract In the book La forme d'une ville change plus vite, hélas, que le coeur d'un mortel, by Jacques Roubaud (1999), sonnets are collected under the title “Square des Blancs-Manteaux” (roughly “Square of the White-Robes”). I investigate their dialogue with the cultural memory of French devotional poetry and consider the task of translating one of them. In researching the interplay between temporalities that it creates, I make this explicit through the categories of “memory” and “now” frequent in his essays, which are used to modulate the relationship between past and present. Behind his formulations I notice the hypothesis of the temporalisation of historical perception - formulated mainly by the historian Reinhart Koselleck -, which is noticeable in poetry in its Romantic and Post-Romantic currents. Guided by this hypothesis, I emphasise inversion as its central procedure. This results in an investigation of the way I translated a sonnet, which sheds light on the broader and more general task of how to translate such an overlapping of times. |
Dossiê Tradução poética e ambiguidade produtiva Paganine, Carolina Resumo em Português: Resumo Neste artigo, discuto os desafios da tradução poética a partir de uma das estratégias da escrita criativa, a “ambiguidade produtiva” (Hahn, 2020), isto é, quando uma palavra evoca mais de um significado e esses dois ou mais significados são importantes para a estrutura semântica do texto poético. Embasando-me na definição de tradução poética como transcriação (Campos, 2013) e num percurso de reflexão sobre a ambiguidade na poesia que passa por Empson (1949), Boase-Beier (2020) e Cassin (2022), argumento a favor de uma tradução criativa que procure evocar a multiplicidade de sentidos no poema traduzido. Para ilustrar a discussão, recorro à minha tradução do inglês para o português brasileiro de um poema de Kimiko Hahn.Resumo em Espanhol: Resumen En este artículo, discuto los desafíos de la traducción poética a partir de una de las estrategias de la escritura creativa, que es la “ambigüedad productiva” (Hahn, 2020), es decir, cuando una palabra evoca más de un significado y cuando esos dos o más significados son importantes para la estructura semántica del texto poético. Basándome en la definición de traducción poética como transcreación (Campos, 2013) y en un recorrido por la reflexión sobre la ambigüedad en la poesía que abarca a Empson (1949), Boase-Beier (2020) y Cassin (2022), argumento a favor de una traducción creativa que busque evocar la multiplicidad de sentidos en el poema traducido. Para ilustrar la discusión, recurro a mi traducción del inglés al portugués brasileño de un poema de Kimiko Hahn.Resumo em Inglês: Abstract In this paper, I discuss the challenges of poetic translation through a creative writing strategy known as “productive ambiguity” (Hahn, 2020), that is, when a word evokes more than one meaning and when these meanings are significant to the semantic structure of the poetic text. Drawing on the definition of poetic translation as transcreation (Campos, 2013) and reflecting on ambiguity in poetry through the works of Empson (1949), Boase-Beier (2020), and Cassin (2022), I argue in favor of a creative translation that seeks to evoke the multiplicity of meanings in the translated poem. To illustrate the discussion, I comment on my translation of a poem by Kimiko Hahn into Brazilian Portuguese. |
Dossiê Poesia antiga em tradução: mulheres fazendo a diferença Freitas, Renata Cazarini de Resumo em Português: Resumo O recente movimento no meio acadêmico e editorial anglófono de mulheres traduzindo e publicando literatura antiga de matrizes greco-romanas tem feito vir à tona passagens poéticas que expõem a violência existente nesses textos, tanto agressões sexuais como emocionais e epistêmicas. As traduções de Homero e de Ovídio publicadas por Emily Wilson (2017) e Stephanie McCarter (2022), respectivamente, revelam seu ativismo contra o patriarcado e a misoginia, além da abertura para discutir os processos de trabalho com o grego antigo e o latim - posturas que as situam como intelectuais da escrita, a identidade que a/o profissional da tradução vai conquistando no século XXI. Esse novo contexto revela maior aceitação do texto traduzido marcadamente feminista e instiga o debate sobre a prática tradutória como atividade crítica e transformadora.Resumo em Espanhol: Resumen El reciente movimiento en el medio académico y editorial anglófono de mujeres que traducen y publican literatura antigua de orígenes grecorromanos ha sacado a la luz pasajes poéticos que exponen la violencia encontrada en estos textos, tanto la agresión sexual como emocional y epistémica. Las traducciones de Homero y Ovidio publicadas por Emily Wilson (2017) y Stephanie McCarter (2022), respectivamente, revelan su activismo contra el patriarcado y la misoginia, además de su apertura a discutir los procesos de trabajo con el griego antiguo y el latín, posturas que las posicionan como intelectuales de la escritura, la identidad que el profesional de la traducción está conquistando en el siglo XXI. Este nuevo contexto revela una mayor aceptación del texto traducido marcadamente feminista e instiga el debate sobre la práctica de la traducción como una actividad crítica y transformadora.Resumo em Inglês: Abstract The recent movement in the English-speaking academic and publishing world of women translating and publishing ancient literature from Greco-Roman sources has brought to light poetic excerpts that expose the violence inherent in these texts, including sexual, emotional, and epistemic aggression. The translations of Homer and Ovid published by Emily Wilson (2017) and Stephanie McCarter (2022), respectively, reveal their activism against patriarchy and misogyny, as well as their openness to discussing the processes of working with ancient Greek and Latin - positions that situate them as intellectuals of writing, the identity that translation professionals are acquiring in the 21st century. This new context reveals a greater acceptance of the markedly feminist translated text and instigates the debate on translating practice as a critical and transformative activity. |
Resenha “O rastro dos deuses que se foram”: História(s) do cinema, de Jean-Luc Godard Santos, Yasmin Bidim Pereira dos |